Pesquisa realizada pelo Reuters Institute for the Study of Journalism identificou os hábitos de consumo de notícias digitais no último ano.
A maior parte das áreas do mercado passam por constantes atualizações por conta das novas tecnologias e pesquisas relacionadas com o tema. No jornalismo, não seria diferente. Em um cenário que oferece infinitas possibilidades de atividades digitais, captar a atenção do público se torna uma tarefa cada vez mais desafiadora.
Como resultado disso, os veículos de comunicação iniciaram um movimento de migração: depois de lançarem suas edições online, chegou o momento de fazer com que as informações cheguem às redes sociais, os espaços digitais mais frequentados pelo público.
Para identificar a atuação do público nesse contexto, o Digital News Report 2023 entrevistou mais de 93 mil consumidores de notícias online, abrangendo a metade da população mundial. Continue a leitura para conferir os principais dados divulgados pela instituição.
Grandes acontecimentos mundiais recentes, como a guerra na Ucrânia e a pandemia de coronavírus, aceleraram a transição para ambientes de mídia mais digitais e móveis, o que tem implicações para os modelos de negócios e formatos de jornalismo. De acordo com os resultados do relatório, apenas 22% do público começa seu consumo de notícias a partir de sites ou aplicativos com esta finalidade, uma diferença de 10 pontos percentuais desde 2018.
Ao invés disso, 30% tendem a acessar as notícias via redes sociais ou pesquisa online. O Facebook, embora ainda seja amplamente utilizado, está perdendo influência no jornalismo, enquanto redes como o YouTube e o TikTok estão ganhando popularidade, especialmente entre os mais jovens. O TikTok, por exemplo, atinge 44% da população entre 18 a 24 anos, e 20% desta audiência utiliza a rede para o consumo de notícias. No TikTok, Instagram e Snapchat, o público afirma que presta mais atenção em celebridades e influenciadores do que em jornalistas, mesmo quando o assunto se relaciona com jornalismo. Já no Facebook e Twitter, os jornalistas são centrais para a geração de debate.
A pesquisa evidenciou que, desde 2017, o uso do Facebook para qualquer finalidade diminuiu 8 pontos percentuais, indo para 57%. Já o Instagram (+2pp), TikTok (+3pp) e Telegram (+5pp) obtiveram crescimento no último ano.
Neste cenário de consumo de notícias via redes sociais, apenas 30% da audiência acredita que o conteúdo selecionado a partir do comportamento do usuário é uma boa forma de se informar. Mesmo assim, os usuários ainda preferem que as notícias sejam selecionadas por algoritmos dessa forma do que escolhidas por editores e jornalistas (27%). Além disso, o grau de confiabilidade do público no jornalismo diminuiu 2% em relação ao ano passado. Em média, quatro em cada dez entrevistados dizem confiar na maioria das notícias na maior parte do tempo.
De encontro a esses dados, 36% dos entrevistados relatam evitar notícias. Esse público se divide entre os que evitam todas as fontes de notícias e aqueles que restringem o acesso à notícias em determinados momentos ou para temas específicos.
Quanto ao formato em que a informação é consumida, 57% dos usuários prefere notícias em texto, alegando que assim conseguem obter mais velocidade e controle no acesso ao conteúdo. Mesmo assim, 62% dos entrevistados consumiram um vídeo via mídia social na semana anterior à pesquisa e apenas 28% navegaram em um site ou aplicativo de notícias. Podcasts de notícias também se destacaram nos resultados da pesquisa, que mostram que 34% do público escuta mensalmente pelo menos um podcast, sendo que 12% consome um programa de notícias e atualidades.
Mais da metade do público também relatou uma preocupação com as fake news, indo de 54% para 56% em relação à pesquisa do ano anterior. A tendência é que essa apreensão seja ainda maior para quem consome notícias via mídias sociais (64%) do que as pessoas que utilizam outros meios para se informar (50%).
Dentre as razões para obter o acesso pago aos conteúdos de notícias, 51% dos entrevistados destacam o acesso a um jornalismo com melhor qualidade do que o que é distribuído de forma gratuita. Outros motivos também levariam pessoas a se tornarem assinantes, como obter conteúdo mais diferenciado (22%), ter uma plataforma sem anúncios (13%) ou caso o valor fosse mais acessível (32%). Já 42% do público disse que nada os faria pagar para ter acesso às notícias. A estatística pode ser um reflexo do aumento do custo de vida ao redor do mundo, que afetou 77% dos participantes da pesquisa.
Em resumo, os dados coletados revelam uma mudança no consumo de notícias, com a crescente adoção de mídias sociais como fonte de informação e uma preferência por influenciadores e celebridades em detrimento de jornalistas. A confiança nas notícias está em declínio, assim como o número de assinantes de plataformas jornalísticas. A transição para ambientes de mídia digital é evidente, o que impacta nos modelos de negócios e formatos de jornalismo.
Nesse contexto em que o público consome notícias fornecidas de forma orgânica pelos algoritmos das redes sociais, é essencial que o jornalismo se destaque em termos de precisão, utilidade e humanização dos conteúdos, buscando restaurar a relevância social e a confiança da audiência. É importante que jornalistas alcancem as plataformas e canais frequentados pelo público, agregando valor através do fornecimento de informações confiáveis e de qualidade.
A polaridade da disputa presidencial em 2022 foi um dos eventos mais noticiosos do ano, o que gerou interesse e fez com que o público que não consome notícias diminuísse de 54% para 41%.
A utilização do Facebook para o consumo de notícias diminuiu 5% em relação ao ano anterior, sendo agora utilizado por 35% do público. Já o Instagram e o TikTok fizeram o caminho inverso, aumentando 4% e 2%, respectivamente.
Fonte: Reuters Institute
Os jornais O Globo, Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo, os mais vendidos do país, já responderam a esta preferência de consumo, marcando presença no TikTok. Mesmo assim, eles ainda possuem mais seguidores no Instagram e no Twitter.
A confiança do público em relação às notícias teve uma queda em relação ao ano de 2022, indo de 48% para 43%. O resultado pode ter sido influenciado pela recente eleição no país. Além disso, dois terços dos entrevistados declarou que vê ou ouve críticas à imprensa com frequência.
Quanto à publicidade, o maior investimento da área ainda é voltado para a televisão aberta, mas a publicidade digital está conquistando seu espaço. A Globo, maior conglomerado de mídia do país, lançou um produto digital de mídia programática para vender anúncios digitais nos seus próprios ambientes virtuais.
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